Região de Coimbra poderá produzir combustíveis dentro de seis anos

Projeto Centro Bio da BLC3 quer começar a construir uma biorrefinaria de demonstração industrial em 2018, abrangendo os municípios de Oliveira do Hospital, Góis, Arganil e Tábua

A produção à escala industrial de biocombustíveis de segunda geração, a partir da transformação de resíduos de exploração florestal e agrícola e com valor energético equivalente ao gasóleo e gasolina, poderá arrancar dentro de seis anos no distrito de Coimbra. A expectativa é de João Nunes, fundador e presidente da BLC3 – Campus de Tecnologia e Inovação, uma associação sem fins lucrativos que começou a funcionar há cinco anos, com sede em Oliveira do Hospital, tendo como missão principal a «valorização de recursos naturais e dos não valorizados de forma eficiente pela actividade económica, com base em tecnologia e inovação, e de fixação de massa crítica e de jovens em regiões rurais».

O projeto com que a BLC3 concorreu aos prémios RegioStars 2016 da Comissão Europeia, e de que é o único finalista português, tem como base a criação de «uma nova infraestrutura tecnológica, pioneira em Portugal, na área das bioindústrias, biorrefinarias e bioprodutos».

Representando um investimento global de 3,1 milhões de euros, com um apouio de 85% do Programa Operacional Regional do Centro, o projeto Centro Bio é apontado como uma »infraestrutura única para o desenvolvimento da "Bioeconomia", das "Smart Regions" e de economia circular».

João Nunes adiantou ao Diário de Coimbra que uma biorrefinaria de demonstração industrial começará a ser construída em 2018, em Oliveira do Hospital, Góis, Arganil, e Tábua. Serão os primeiros quatro territórios com autonomia energética, por terem capacidade de gerar mais biocombustíveis do que consomem em termos de combustíveis fósseis, disse o presidente da BLC3.

Segundo João Nunes, estes quatro concelhos consomem em média 19 mil milhões de litros de combustíveis por ano, mas no conjunto, dada a sua grande densidade florestal, têm capacidade para produção de 33 milhões de litros de biocombustíveis. «Por isso estamos a desenhar uma unidade de demonstração industrial de 25 milhões de litros», explicou.

Projeto "âncora" da Associação BLC3

A tecnologia e o conhecimento existem, há parcerias nacionais e internacionais para a investigação neste projeto, encarado com bons olhos pelo Governo português e pela Comissão Europeia, que disponibilizaram significativos fundos para fazer avançar a ideia.

O responsável da BLC3 sublinhou que a União Europeia «quer caminhar mais rápido possível para chegarmos a um horizonte de 10% dos nossos consumos serem de biocombustíveis» e destacou igualmente a importância de garantir a Portugal capacidade de independência energética.

A produção de um substituto do petróleo é assumida como um projeto "âncora" da BLC3. Passou por uma fase de laboratório, que comprovou a validade da tecnologia (os resíduos, submetidos a altas temperaturas, são convertidos em combustíveis líquidos ), encontra-se na fase piloto e os responsáveis procuram agora assegurar os meios e condições para a fase de produção dos biocombustíveis, acreditando que dentro de alguns anos este tipo de combustíveis com origem nos "lixos" das matas possa ser disponibilizado aos automobilistas, ao lado do diesel e gasolina.

A recolha e aproveitamento dos resíduos florestais voltará assim a ter valor para as populações rurais, gerando riqueza, combatendo o abandono das aldeias e simultaneamente, com a limepza das matas, dando um valioso contributo para travar a calamidade dos incêndios, concluiu João Nunes.

Date: 2016-10-11

Source: Diário de Coimbra

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